9 de nov. de 2011

De volta pra casa


Tanta volta, tanto ranço
Tanta tristeza, quanto tempo

Tanto colo, tanto lenço
Tanta falta, quanto silêncio

Tanto frio, tanta ausência
Quanto remédio, pouca ciência

Quanto mal, tanto faz
Tanto descaso, quanto mais

Que quanto de tanto é pouco
A que ponto chega e depende de como

Quanto de verdade cabe num tanto
Que tanto de dó dorme num canto

Quem sou eu, se estou só
Quando eu posso
Quanto eu quero
Quem eu vejo
Quem importa
Que desejo
(agora)
bate
à minha
porta.

17 de nov. de 2010

Ciranda

Quando se está flor
Tudo se abre, tudo é cor

Quando se está cor
Tudo é sol, tudo brilha

Quando se está luz
Tudo é som, tudo é trilha

Quando se está caminho
Tudo respira, tudo conduz

Quando se está energia
Tudo é vigor, tudo harmoniza

Quando se está sorte
Tudo é equilíbrio, tudo é vital

Quando se está perfeito
Tudo é amor e etc e tal


Canção


O vento da noite sussurra
"Estou só"


A música entranhada encanta
"Estou só"


Os abraços no vazio afagam
"Estou só"


Meu resto de folia acena
"Estou só"


E o coro profetiza
"Amem"



11 de jun. de 2010

Torto Canto

Se eu disser que meu tempo é agora
Agora é um momento ruim pra isso
Calma ausente é a pressa que devora
Oriente e ocidente, prumo e enguiço

É que só eu sei minhas preces e magias

Vão dizer que me repito demais
Indo e voltando no ponto cambota
Vaiando a dor de um só idiota
E eu digo que aqui dentro jaz
Restos mortais de tudo que importa

Diante de tanto remédio vencido
Eu desfio o rosário de lamentos
Na noite dos dias de teto de vidro
Tudo desafia o caos-sentimento
Rogo aos céus que me dêem tempo
Outro dia eu volto e acerto a dívida

Dois faz par, mas não faz felicidade
Eu sei e sei quem mais que sabe

Mas dos dias de contente
Inteirei um bocado de alegria
Morna e ás vezes quente e fria


14 de dez. de 2009

Suave


Na minha boca calo segredos
Aquieto chistes e silencio trovões

Na minha alma adormeço sonhos
Embalo o futuro, crio paixões

Dentro de mim moram asas
Nas costas, nos pés, nos cabelos

Ao meu redor o vento se move
E eu quero beijar estrelas

Meu tempo que passa
Meu tempo que é
Meu tempo que virá

Dentro dos meus olhos
Vejo o meu mundo

Dentro do meu relógio
Mora um segundo

Temp(l)o das minhas certezas

3 de mai. de 2009

Só Saudade

Um dia ‘Era uma vez’

E de novo, lia seu rosto

Na sombra da memória

Sem cheiro, sem gosto

Sem mão, sem ronco

Nem frio, nem calor



Um dia, ‘Era uma vez’

E de novo, me via só

De mãos dadas comigo

Do jeito de dar dó

Num dia de domingo


24 de abr. de 2009

Falando sobre Futuro

Fugindo um pouco do tema corrente, sem fugir da proposta do espaço



Dia desses estava lendo um material sobre desenvolvimento sustentável e pensando sobre as maneiras de passar essa bola de uma forma fluída, pra turma mais jovem. Pensar sobre conhecimento sempre me dá calafrios. Explico: aquisição de conhecimento é coisa complexa, porque implica estabelecer relações que vão desde a forma como é transmitido, quem vai receber, qual é o conteúdo e até mesmo a necessidade de transmissão (a quem importa, ao receptor ou ao transmissor?).

Bem, como tinha que dar encaminhamento ao trabalho, eu toquei o barco, mas as pulgas (sempre elas!) atrás da orelha ficaram me perturbando. Eu sei que o modo consumista de funcionamento da nossa macro-comunidade, DEVE ser interrompido. Sei que não temos receptáculo pra tanto lixo, que não temos capacidade pra absorver tanto resíduo tóxico e sei que todo recurso é finito. Isso é o que eu sei, mas quem mais se interessa por isso? Quem mais deveria se interessar? E pra quem não se interessa como despertar a curiosidade sobre o assunto, afinal de contas é questão de sobrevivência.


“Tudo que se vê, pra que crer?
Tudo que se crê, pra que ter?
Tudo que se tem, pra quem?”
Muzak – Zeca Baleiro

Num tempo em que o provisório permanente impera, eu fico pensando em projeto de futuro. - um luxo. Casas de casais novos construídas por sobre a casa dos pais; Puxadinho de quarto pro filho da filha (que já vai fazer 15 anos); o filho que volta pra casa dos pais depois de um casamento de 20 anos que se acabou; o garoto que precisa comprar o PSII e pra isso convence a mãe que o muro do quintal pode ficar pra depois; Ah! Sem contar o clássico elástico na torneira que substitui, por anos, a carrapeta gasta.


Esse quadro todo não me escapa quando penso em desenvolvimento sustentável. O Micro e o Macro. Eu posso falar de buracos na camada de ozônio (e isso nem mais assusta), posso mostrar “A história das Coisas”, posso dizer que daqui a 30 anos o planeta pode evoluir pra um quadro terminal. Quem se importa? Mais casas-pavê (camada+camada+camada) serão construídas; mais puxados serão montados; brinquedos hi-tech novos ainda serão mais importantes; mais torneiras serão consertadas com elástico.


Seria bom, por agora, deixar claro que não falo de perfeição, me queixo sobre a falta de projeto de futuro. Isso me preocupa. Como falar sobre o problema da espécie, sobre rios, matas, animais, sobre a decadência da experiência humana neste planeta, quando na vida micro, na experiência diária, na rotina, não existe futuro?


Ponto de pausa pra um trecho de Encontro Marcado, do Fernando Sabino:


"De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro".


Eu ainda continuo com dúvidas. Eu ainda continuo me perguntando. Eu ainda continuo... Não sei se isso é educar, se é transmitir conhecimento, se é mobilização pra sobrevivência da espécie e do planeta, ou se é qualquer coisa que ainda não vi. O que sei é que entendo que falar sobre desenvolvimento sustentável é necessário. Sei também que pra falar sobre os rumos do planeta temos de falar sobre futuro, no nível macro, e no nível micro. Sei que viver sem projetar um futuro, é apostar numa salvação que não virá. Ter esperança é bom, viver esperando, é iludir-se.


Citei o Fernando Sabino porque esse trecho sempre me socorre quando penso sobre o que fazer diante dos grandes desafios da nossa era. É certo que o resultado de trabalhar o futuro não chega rápido, décadas de imediatismo forjado pro consumo não desaparecem rápido assim. Então, que esse seja o momento de começar (e de novo), que todo dia seja o dia de pensar/fazer o futuro. Esse é o meu tom. Eu busco a resiliência e encontro vida.

Pra terminar, um trecho de uma música que me emociona há décadas...


“E o futuro é uma astronave/ Que tentamos pilotar/ Não tem tempo, nem piedade/ Nem tem hora de chegar/ Sem pedir licença/ Muda a nossa vida/ E depois convida/ A rir ou chorar.../ Nessa estrada não nos cabe/ Conhecer ou ver o que virá/ O fim dela ninguém sabe/ Bem ao certo onde vai dar/ Vamos todos/ Numa linda passarela/ De uma aquarela/ Que um dia enfim/ Descolorirá...”
Aquarela - Toquinho / Vinicius de Moraes / G.Morra / M.Fabrizio

Por hoje é só pessoal!

Em tempo: Esse formato de postagem foi uma homenagem-inspiração para um amigo querido. Beijo, Chuchu!